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apanhador de desperdícios e inclinação as flores, 2018-2019
séries fotográficas, mobilefotografias, gif
trabalho inédito
"uso a palavra para compor meus silêncios.
não gosto das palavras
fatigadas de informar.
dou mais respeito
às que vivem de barriga no chão
tipo água pedra sapo.
entendo bem o sotaque das águas
dou respeito às coisas desimportantes
e aos seres desimportantes.
prezo insetos mais que aviões.
prezo a velocidade
das tartarugas mais que a dos mísseis.
tenho em mim um atraso de nascença.
eu fui aparelhado
para gostar de passarinhos.
tenho abundância de ser feliz por isso.
meu quintal é maior do que o mundo.
sou um apanhador de desperdícios:
amo os restos
como as boas moscas.
queria que a minha voz tivesse um formato
de canto.
porque eu não sou da informática:
eu sou da invencionática.
só uso a palavra para compor meus silêncios."
(manoel de barros)
"quando vier a primavera,
se eu já estiver morto,
as flores florirão da mesma maneira
e as árvores não serão menos verdes que na primavera passada.
a realidade não precisa de mim.
sinto uma alegria enorme
ao pensar que a minha morte não tem importância nenhuma
se soubesse que amanhã morria
e a primavera era depois de amanhã,
morreria contente, porque ela era depois de amanhã.
se esse é o seu tempo, quando havia ela de vir senão no seu tempo?
gosto que tudo seja real e que tudo esteja certo;
e gosto porque assim seria, mesmo que eu não gostasse.
por isso, se morrer agora, morro contente,
porque tudo é real e tudo está certo.
podem rezar latim sobre o meu caixão, se quiserem.
se quiserem, podem dançar e cantar à roda dele.
não tenho preferências para quando já não puder ter preferências.
o que for, quando for, é que será o que é."
(alberto caeiro)


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